terça-feira, 15 de março de 2016

Batman: Ano Um


Muitos devem concordar que, quando o assunto gira em torno de heróis, Batman é sempre um dos mais enaltecidos. Todo o arcabouço psicológico que permeia a mitologia de Bruce Wayne entra em contraste com a maioria dos outros heróis, pois aqui o vigilante de Gotham nasceu por ser um filho da violência.

A função do atual e promissor seriado Gotham é justamente esta: mostrar o alto nível de criminalidade e corrupção que ocupam todas as áreas da cidade, sendo os pais do menino Wayne vítimas da perversidade que emana até dos detalhes mais vis e imperceptíveis; revelar por que realmente uma sociedade precisa de um herói.


No entanto, por ser uma mitologia rica e detentora de um vasto leque de possibilidades, o programa de televisão Gotham não é o conteúdo pioneiro a destrinchar a história do Homem-Morcego antes de ele vestir o manto. Na década de 1980, o roteirista Frank Miller, pouco tempo depois de lançar o consagrado Batman – O Cavaleiro das Trevas, publicou a memorável HQ Batman: Ano Um.   


Feita em parceria com o artista David Mazzucchelli, Ano Um, como o próprio título já deixa pressuposto, narra o primeiro ano do tenente Jim Gordon no Departamento de Polícia de Gotham. Paralelamente, em uma estratégia engenhosa e sensacional, o enredo também detalha o retorno do adulto Bruce Wayne após anos de viagem.


Logo, o objetivo a HQ é desvelar, durante o tempo de um ano, o progresso de dois personagens que, apesar de trabalharem em áreas distintas, lutam pela mesma causa: o fim da corrupção. Gordon, por um lado, está cansado de ver as ferramentas ardilosas com as quais os policiais subversivos trabalham. Bruce, por carregar o trauma de ser testemunha da morte dos pais, quer se tornar um símbolo que emane medo nos criminosos e, principalmente, quer levar justiça a uma cidade imersa nas sombras. 


Ano Um possui um conjunto de coisas que o tornaram clássico: um roteiro incrível e inovador, o qual retrata nuances ainda presentes na contemporaneidade, uma ilustração magistral e a apresentação de novas perspectivas para personagens icônicos, como Selina Kyle e a faceta traiçoeira de Gordon.


Sendo assim, é deveras importante que um legítimo fã do Homem-Morcego pesquise e passeie pelas páginas de Batman: Ano Um, uma vez que a HQ tornou-se cânone e não é a toa que o seriado Gotham se inspire nela, e que o cineasta Christopher Nolan a tenha utilizado na composição de sua trilogia (As comparações são inevitáveis, especialmente com Batman Begins). Eis aqui mais uma obra que sabiamente usufruiu da realidade como matéria prima. Eis aqui mais uma prova de que um herói pode ser a luz no meio do caos.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Spotlight: Segredos Revelados


Por Léo Figueiredo

Em tempos longínquos, houve um período em que uma das características mais virtuosas do jornalismo era o seu comprometimento e fidelidade para com a veracidade dos fatos. Infelizmente, o retrato da realidade contemporânea, além de estar longe dos belíssimos atributos de outrora, é gritante; é deveras difícil acreditar em qualquer coisa que venha de uma mídia corrupta, conspiratória, voltada exclusivamente para si e os interesses privados que a permeiam.

Diante de um jornalismo cínico, narcisista e hipócrita, é triste constatar que o jornalismo genuíno vem caindo cada vez mais no ostracismo. Entretanto, para a sorte daqueles profissionais que levantam a bandeira da verdade e que não desistem tão fácil, ainda existem fontes de inspiração nas quais eles podem se apoiar. É o exemplo de Spotlight: Segredos Revelados.  


Inspirado em uma história real, o enredo do filme narra a epopeia jornalística que a equipe Spotlight (redação responsável por notícias investigativas) do jornal The Boston Globe tem de enfrentar para cobrir uma matéria a respeito de casos de pedofilia envolvendo padres da Igreja Católica da região. 


O time, composto por Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James), cada um com seu objetivo e destaque particular, é liderado pelo editor Walter Robinson (Michael Keaton) e conduz o desenrolar da investigação de maneira competente e com atuações formidáveis, as quais se intensificam na medida em que as descobertas de abuso sexual não param de aumentar. 


Dirigido e roteirizado por Tom McCarthy e vencedor dos Oscars de Melhor Roteiro Original e Melhor Filme, o longa se assemelha com outro ganhador, Whiplash, no aspecto de ter tido um orçamento pequeno, uma direção singela, mas uma repercussão gigantesca. 


A direção de McCarthy, que geralmente comandava trabalhos pequenos em sua carreira, não é algo surpreendente, porém isso não deixa a temática do filme menos revoltante; aqui o roteiro tem um papel inestimável em denunciar as práticas de pedofilia e, no caso de algumas vítimas, detalhar o modo como eram abusadas. O restante da produção parece reconhecer esse valor, transparecendo o cuidado e zelo ao transmitir as informações adquiridas por cada repórter.

Em 2003, a equipe do Spotlight recebeu o prêmio Pulitzer por essa investigação, a qual ajudou a descobrir outras centenas de casos ao redor do mundo. Desse modo, nos tempos atuais em que as redes sociais ganham mais abrangência e autonomia e em que notícias falsas e maquiadas são distribuídas de forma tão leviana e corriqueira, é realmente glorioso contemplar uma obra como Spotlight: Segredos Revelados, a qual demonstra de que jeito o jornalismo genuíno deve ser aplicado. Um belo ensinamento para adotar no trabalho e para obter na vida.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Lista de vencedores


Por Redação multissêmica

Na noite de ontem (28/02/16) aconteceu o Oscar 2016, e se você acompanha o Multissemia nas redes sociais deve ter percebido que a equipe do blog assistiu a cerimônia do início ao fim. A premiação, que presenteou o público com ótimas surpresas, foi dinâmica e ainda sobrou espaço para o apresentador Chris Rock fazer críticas satíricas a respeito das recentes polêmicas da Academia sobre a ausência de negros entre os candidatos. 

Segue abaixo a lista dos vencedores nas principais categorias e os breves comentários da equipe do Multissemia.

Melhor Filme
A grande Aposta
Ponte dos Espiões
Brooklyn
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
O Regresso
O Quarto de Jack
Spotlight: Segredos Revelados

Comentário multissêmico: É bastante provável que essa tenha sido a grande surpresa da noite, uma vez que havia grandes concorrentes e preferidos a ganhar nesta categoria, como O Regresso, O Quarto de Jack e até mesmo Mad Max. No entanto, Spotlight também se deu bem em outras premiações que precedem o Oscar, o que comprova o seu valioso trabalho artístico. 

Melhor Ator
Bryan Cranston (Trumbo)
Matt Damon (Perdido em Marte)
Leonardo DiCaprio (O Regresso)
Michael Fassbender (Steve Jobs)
Eddie Redmayne (A Garota Dinamarquesa)

Comentário multissêmico: Embora talvez tenha sido a menor surpresa da cerimônia, certamente era a mais aguardada. Cinéfilos do mundo inteiro fizeram torcida para que DiCaprio ganhasse seu primeiro Oscar após quatro indicações e anos sendo "esnobado" pela Academia. O resultado foi aplaudido de pé por sua incrível disposição em O Regresso. 

Melhor Atriz
Cate Blanchett (Carol)
Brie Larson (O Quarto de Jack)
Jennifer Lawrence (Joy)
Charlotte Rampling (45 anos)
Saoirse Ronan (Brooklyn)

Comentário multissêmico: Outra candidata pela qual a torcida era grande. Assim como na categoria de Melhor Ator, não era difícil de imaginar que Brie Larson levasse a estatueta dourada por sua intensa performance dramática em O Quarto de Jack. 

Melhor Diretor
Alejandro G. Iñárritu ("O regresso")
Tom McCarthy ("Spotlight: Segredos Revelados")
George Miller (Mad Max: Estrada da Fúria)
Adam McKay (A Grande Aposta)
Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack)

Comentário multissêmico: Ainda que George Miller merecesse o prêmio por sua monumental direção em Mad Max: Estrada da Fúria - e muitos concordam com isso - o vencedor pelo segundo ano consecutivo foi Alejandro Iñárritu. A direção do mexicano, com todos os planos-sequência, todo o aproveitamento da paisagem, e, é claro, a cena do urso (Meu Deus, que cena foi aquela!) foi digna de receber a estatueta. Minucioso, preciso e visionário. 

Melhor Roteiro Adaptado
A Grande Aposta
Brooklyn
Carol
"Perdido em Marte"
O Quarto de Jack
Comentário multissêmico: A Grande Aposta, filme inspirado em eventos reais sobre a crise imobiliária dos EUA, era forte candidato a ganhar nesta categoria por tratar com irreverência um tema dramático. O único Oscar que o filme levou. 
 Melhor Roteiro Original
Ponte dos Espiões
Ex Machina
Divertida Mente
Spotlight - Segredos Revelados
Straight Outta Compton

Comentário multissêmico: O interessante é que Spotlight abriu a cerimônia ganhando Melhor Roteiro Original e encerrou com Melhor Filme. O longa tem o enredo baseado em eventos reais a respeito de um grupo de jornalistas que investigaram a polêmica de atos de pedofilia cometidos por padres na cidade de Boston. Merecido. 

OBS: Mad Max ganhou seis estatuetas em categorias técnicas, saindo da noite com o maior número de prêmios. TESTEMUNHEM! 

E você? Gostou dos vencedores? Entre em contato conosco e nos diga o que achou! Estamos abertos a sugestões! Até a próxima! 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Mad Max: Estrada da Fúria

por Gustavo Vasconcelos

A crise criativa de Hollyhood não é novidade para ninguém. Em 2015 isso ficou ainda mais escancarado com o exagero no retorno de lançamentos de filmes que outrora fizeram sucesso, como Jurassic Park, Missão Impossível, Velozes e Furiosos, Exterminador do Futuro, Star Wars, 007, entre outros. É uma fórmula segura e fácil para as indústrias garantirem rios de dinheiro; o pior é que essa crise criativa se espalhou pelo mundo como uma praga que atinge até as indústrias de games com seus reboots e o mercado de animação japonesa com o retorno de clássicos como Os Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon, Dragon Ball, etc, com qualidades muito duvidosas. Mas felizmente Mad Max é uma das exceções de produção que retornou e conseguiu se igualar aos melhores momentos dos seus antecessores clássicos - e tecnicamente - não apenas em bilheteria.

Em um mundo pós-apocalíptico, o planeta Terra se torna um imenso deserto e a humanidade luta para sobreviver. Os bens mais valiosos são a água e a gasolina. Max Rockatansky (Tom Hardy) é capturado por Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), um ditador que monopoliza uma importante fonte de água da região onde tiraniza a população. É quando Furiosa (Charlize Theron), uma de suas subordinadas, rouba algo precioso do tirano e foge. E então começa uma perseguição épica pela estrada desértica de Wasteland.


Max se vê no meio de uma guerra entre Furiosa e Immortan Joe e tem que fazer de tudo para sobreviver. Em meio à perseguição ele se vê no dilema entre permanecer sozinho pelos seus traumas do passado, ou ficar e ajudar um grupo. Tom Hardy consegue uma atuação muito boa e convence como Max; apesar de não ser à altura de Mel Gibson dos três filmes anteriores, ele repassa carisma e profundidade pelos tormentos de suas memórias.


As cenas de ação são um deleite para os fãs de efeitos visuais práticos: explosões, capotagens dos veículos, tudo de primeira qualidade. Mesmo sendo muitas cenas de ação isso não às tornam cansativas nem repetitivas, pois são interligadas por momentos de pausas que desenvolvem muito bem os personagens e de uma forma que prende o expectador do início ao fim, e a cada nova cena de ação o filme consegue surpreender cada vez mais. Outro ponto a se notar é a ausência de câmeras tremidas, uma técnica muito utilizada em filmes de ação, mas que muitas vezes mais atrapalha e confunde o espectador, Mad Max mostrou que é possível fazer excelentes cenas de ação sem câmera tremida. Todos esses feitos, graças ao diretor e roteirista George Miller, que também dirigiu todos os Mad Max anteriores; sua obsessão e perfeccionismo em gravar as cenas de perseguição por vários meses resultou em uma obra-prima dos filmes de ação.

Os cenários deslumbrantes e imersivos fazem com que o mundo do filme seja muito mais plausível e palpável. O diretor de fotografia John Seale, se não foi perfeito, se aproximou muito da perfeição. A trilha sonora de Tom Holkenborg é linda, emociona, e toca no fundo do coração, ajudando e muito no tom dramático dos personagens.


Outro grande destaque e agradável surpresa é a Furiosa, uma personagem forte, não só fisicamente, mas de presença e personalidade; seu arco é muito bem construído, a atuação de Theron está fantástica, e o melhor é que as participações femininas neste longa fazem jus a qualquer participação masculina em termos de importância pro enredo em filmes. Não há sexualização feminina e definitivamente elas não são o sexo frágil (afinal, Furiosa consegue lutar contra Max com apenas um braço!). Mesmo ela roubando a cena de Max isso não torna a história chata, pois é uma personagem muito cativante, graças também a um roteiro muito bem amarrado.

Aliás, o que torna as cenas de ação tão legais é também pelo fato do filme conseguir com que a pessoa se importe com os personagens, com o destino deles, mesmo que tenham aparecido há pouco tempo. É o caso de Nux (Nicholas Hoult), um dos mais fanáticos seguidores de Immortan Joe; desde sua primeira participação já se nota que ele é diferente dos demais, não se sabe ao certo o porquê, mas há algo nele que o diferencia dos demais, e esse algo é descoberto no desenvolvimento de sua trama.


Um dos poucos pontos negativos que podem ser considerados é que Max fica demasiadamente sub aproveitado, como o destaque gira em torno de Furiosa, o que deveria ser o protagonista faz papel apenas de acompanhante e testemunha. No entanto, isso também pode ser considerado um ponto positivo, pelo fato deste já ser o quarto filme da franquia, permitindo assim o filme explorar essa possibilidade. Mad Max: Estrada da Fúria, se não é um filme perfeito, é o que se pode dizer que chega mais próximo da perfeição.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Star Wars: O Despertar da Força


Por Léo Figueiredo

O cinema está se tornando saudosista. Em um período em que é cada vez mais comum vez clássicos filmes retornarem do limbo (como Mad Max e Jurassic Park), a impressão é que não basta apenas relembrar o sucesso de passados dourados para alegrar os fãs antigos, mas especialmente enveredar nas possibilidades que aquele universo ainda tem a oferecer para conquistar um novo público.

E Hollywood deve vibrar quando um roteiro com essa proposta acaba caindo nas mãos de um diretor devoto ao saudosismo. J. J. Abrams é um cineasta que se enquadra nesse perfil, pois já possui no seu currículo o reinício de Star Trek e o fantástico Super 8, cujo objetivo era resgatar o espírito de alguns longas da década de 70/80. Não era de se espantar, portanto, que ele se envolvesse em outro projeto dessa estirpe. Mas ninguém, tampouco os fãs, esperavam que fosse um novo Star Wars.


Depois do anúncio de que a Disney tinha adquirido os direitos sobre a obra de George Lucas e que uma nova trilogia seria desenvolvida, muitas indagações foram levantadas: o que resta contar? O que aconteceu com aqueles personagens após 32 anos desde o episódio VI? Star Wars: O Despertar da Força responde muitas perguntas, abre portas para o futuro, e faz com que uma das franquias mais mitológicas da história do cinema continue com o respeito irretocável. 


No final de O Retorno de Jedi, o Império é arruinado junto com a destruição da segunda Estrela da Morte. Porém, o Lado Sombrio continua vivo, e das cinzas do Império surge o seu remanescente: a Primeira Ordem. O enredo do filme tem seu início com Kylo Ren (Adam Driver), líder dos Cavaleiros de Ren, em busca do mapa que pode entregar a localização do paradeiro de Luke Skywalker (Mark Hammil), o último Cavaleiro Jedi. Se a Primeria Ordem conseguir capturar Luke, o Lado Sombrio finalmente terá sua vitória.


Uma parte deste mapa está com BB-8, um cativante droide, e ele acaba se tornando amigo de uma catadora de lixo, Rey (Dayse Ridley), e de um fugitivo do próprio passado, Finn (John Boyega). A dupla logo é perseguida pela Primeira Ordem e recebe a ajuda Han Solo (Harrison Ford), que pode levá-los à Resistência, antiga Aliança Rebelde, uma vez que a líder Leia (Carrie Fisher) também almeja adquirir o mapa.   


O Despertar da Força é uma homenagem do começo ao fim. A própria estrutura narrativa é bastante similar com Uma Nova Esperança, até pelo fato de existir uma nova Estrela da Morte e na resolução de como destruí-la, o que vem arrancando críticas negativas de muitos fãs, mas talvez a verdadeira intenção fosse preservar as origens da franquia no sentido de como Luke foi introduzido à sua jornada. As referências aos episódios anteriores são diversas – a trilha sonora de John Williams é uma viagem no tempo – e é deveras emocionante rever esse mundo e seus personagens icônicos. (Assistir a Millennium Falcon de volta à ativa é de arrepiar).   


Além do avanço tecnológico, que contribui para um verdadeiro e belíssimo espetáculo visual nas cenas de ação, as atuações não deixam a desejar. Boyega é sensacional como alívio cômico e nos seus momentos heroicos, assim como Ridley consegue transmitir claramente a evolução de Rey durante o seu percurso. Ambos sustentam quase toda a trama e seria formidável se pudessem ficar juntos no futuro. O título do filme faz menção à Força, a qual é muito trabalhada em Kylo Ren, que a maneja quase tão bem quanto Darth Vader. É certo que esse personagem trará mais surpresas. 


Infelizmente, Star Wars: O Despertar da Força tem seus deslizes. Algumas explicações são superficiais e não saciam a curiosidade do espectador. Afinal de contas, era de se esperar alguns detalhes do que aconteceu nos últimos 30 anos. Algumas respostas podem ser encontradas em livros canônicos, mas e quem não os leu? É provável, é claro, que alguns mistérios sejam solucionados nas sequências, o que mostra que ainda há variados caminhos para esse universo ser expandido.


Com seu novo trabalho, J. J. Abrams conseguiu levar o saudosismo a um outro patamar, enaltecendo com mais profundidade uma franquia que consagrou o gênero da ficção científica e do space opera. A Força despertou, e será um prazer, agora mais do que nunca, mergulhar na imaginação e nas aventuras que somente são encontradas naquela galáxia muito, muito distante.  

Perdido em Marte


Por Léo Figueiredo

O cineasta Ridley Scott conquistou sua fama a partir de 1979, quando lançou o memorável Alien – O Oitavo Passageiro. O sucesso se manteve três anos depois com Blade Runner – O Caçador de Androides, longa que está situado no olimpo das ficções-científicas. Muitos fãs acreditavam que, após o fiasco de Prometheus em 2012, o diretor inglês desistiria de produções desse gênero.

A surpresa não poderia ter sido mais agradável, e é com o otimista e gracioso Perdido em Marte que Ridley Scott regressa ao âmbito que em outrora o levou aos holofotes. Inspirado na obra literária de Andy Weir, o casamento da direção com o roteiro gerou um resultado ideal, uma vez que o autor do livro sempre foi interessado por ficção e leis da física.

O enredo tem início com a tripulação da Ares 3 tendo que abandonar o planeta vermelho. Durante o processo de evacuação, o astronauta Mark Watney (Matt Damon) fica para trás e é considerado morto pela NASA e, consequentemente, por todo o mundo. 


Superando todos os possíveis cálculos matemáticos e teorias científicas, Watney permanece vivo e inicia seu projeto de como sobreviver em Marte. Diferente de Tom Hanks, que em O Náufrago usou uma bola como seu melhor amigo (o inesquecível Wilson), aqui Watney precisa se agarrar à ciência e a todo conhecimento que adquiriu por meio dela até esperar que a próxima tripulação venha resgatá-lo.


Em oposição ao introspectivo Gravidade e ao didático e acadêmico Interestelar, Perdido em Marte traz um clima amenizado diante de uma situação tão árdua. A serenidade não é somente exalada pelo cativante elenco, mas sobretudo pela trama; há ali o evidente esforço e interesse em salvar o astronauta e amigo, tanto por parte da equipe da NASA, liderada por Jeff Daniels, quanto pela tripulação da Hermes, comandada por Jessica Chastain.   


Parte do clima despretensioso deve-se à atuação de Matt Damon, que construiu um personagem capaz de fazer piadas e destilar ironias nos momentos mais adversos, seja nas suas experiências tentando plantar batatas ou no seu histórico audiovisual. O fato do protagonista em muitas cenas ficar falando diretamente para uma câmera ajuda a fazer com que o espectador torça a favor daquele sujeito. E para descontrair mais, a trilha sonora é composta por canções que abalaram as rádios de décadas passadas, como Starman e Hot Stuff, algo que remete quase imediatamente ao cômico e adorável Guardiões da Galáxia.     


Ridley Scott tinha em mãos a oportunidade de fazer mais um drama com o intuito de concorrer a várias premiações, porém apostou na simplicidade e alegria e fez com que Perdido em Marte se tornasse outro marco em sua carreira. Parece que, apesar das chances nulas de viver no espaço, ainda existe um longo rastro de esperança para este gênero no cinema. E de repente Marte ficou mais simpática e amigável. 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Mobile Suit Gundam Wing


Por Gustavo Vasconcelos


“…então por que as pessoas lutam? Talvez o significado da existência humana esteja na vontade de lutar, as pessoas sentem que estão realizando alguma coisa numa batalha, e também é fato que aqueles que realmente lutam nunca são considerados corrompidos”

A primeira impressão que se tem quando se olha para Gundam Wing é que se trata apenas de mais um anime de Mecha (animes com robores gigantes) generalizado, mas basta o primeiro episódio para perceber que vai muito além disso. Cada personagem independente do lado em que se encontra na trama possui suas personalidades e ideais bem definidos.

Em um futuro alternativo, a raça humana vem sofrendo com problemas de superpopulação, degradação do meio ambiente e esgotamento de recursos do planeta Terra, a única saída foi viver no espaço em Colônias Espaciais, após a colonização do espaço sideral a humanidade passou a contar os anos de uma nova forma, a Era Depois da Colonização (DC).

“Operação Meteoro”, esse é o nome da missão secreta dada aos cinco pilotos dos Gundams, Mobile Suits (Mechas) feitos de liga de “Gundanium” (uma matéria-prima extremamente rara), e é onde a trama do anime se inicia. O ano é 195 Depois da Colonização, com grandes expectativas os seres humanos deixam a Terra para começar uma nova vida em Colônias Espaciais, no entanto a Aliança (que não é a Aliança Rebelde) da Esfera Terrestre Unida obtém grandes poderes militares e utilizando o pretexto de “justiça e paz” domina e oprime os cidadãos das colônias. Para combater essa tirania da Aliança, alguns cidadãos de certas colônias planejaram levar novos arsenais para a Terra, disfarçando-os de estrelas cadentes que na verdade são os cinco Gundams.

A partir daí os cinco jovens pilotos, Heero, Duo, Trowa, Quatre e Wufei travam duras batalhas e fazem de tudo para completar as missões que lhe foram incumbidas, muitas vezes chegando à atitudes extremas para completá-las. Uma de suas principais missões é acabar com a organização Oz, um grupo de soldados especialistas da Aliança.
Coronel Zechs Marquise da Oz em ação

É na Oz que se encontram dois personagens centrais e antagônicos aos pilotos Gundams, mas não necessariamente vilões, são eles: Zechs Marquise e Treize Kushrenada, é aí que começa o diferencial do anime. É difícil não se identificar ou se comover a cada episódio com as atitudes dos cinco pilotos dos Gundams, onde cada um tem seus arcos e histórias, e personalidades bem definidas. Assim como é quase impossível não se surpreender com as ações dos personagens da Organização Oz que são altamente complexos, bem como a evolução da jovem Relena Darlian, e os Plot Twists que a trama te joga quando menos se espera.

Para elucidar de forma mais clara a visão de "bem" e "mal" deste anime, é interessante uma comparação com uma famosa obra da cultura pop para evidenciar a discrepância entre conceitos, Gundam Wing é o oposto extremo dos filmes de Star Wars, apesar de ambos se passarem no espaço, em Star Wars vemos a eterna luta do herói contra o vilão, do bem contra o mal, onde o mal é ruim por ser, o mal injustificável, apesar de haver uma exceção que é Anakin Skywalker/Dath Vader, é fácil definir quem é o vilão e o herói, já em Gundam Wing muitas vezes chegamos a nos perguntar qual é o lado “herói” e qual é o lado "vilão", esse é o principal brilho do anime, não os robôs gigantes, e sim as muitas nuances que separam o bem do mal e as diferenças filosóficas dos personagens.

A trilha sonora composta por Kou Otanni é belíssima e consegue a sutileza de utilizar canções amenas em situações de grandes desastres ao passo que explora ao extremo o heavy metal em cenas de batalhas fulminantes. Outro destaque fica por conta dos Mechanical Designers, que desenharam os belíssimos Gundams e todas as outras formas mecânicas como as bases espaciais, colônicas e Mobile Suits. A animação produzida em 1995 pelo estúdio Sunrise é de regular para boa, não é nada excepcional mas não decepciona em momento algum. A ótima direção ficou por conta de Masashi Ikeda, e por último um roteiro muito bem pensado, construído e conduzido por Katsuyuki Sumizawa.
O Gundam Wing Zero

Com 49 episódios, Mobile Suit Gundam Wing é um anime que acima de tudo te faz refletir, sobre a humanidade, as guerras e as nossas atitudes. Se você é fã de animes e ainda não assistiu corra pra ver o mais rápido possível, e mesmo que não seja fã, vale a pena experimentar. Poucos animes conseguiram demonstrar tão bem que existe muito mais do que apenas herói e vilão, que não são apenas dois lados e que as coisas não são preto e branco, assim como no nosso mundo.