quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O Regresso



Por Gustavo Vasconcelos


Em uma época de crise criativa em Hollyhood, onde clássicos dos anos 80 e 90 retornam quase em ritmo ininterrupto (muitos em formas de “zumbis”, tendo péssimos desempenhos do ponto de vista crítico) sendo essa a tendência atualmente, ainda há espaço para filmes com roteiros originais e os que se espelham em livros, que é o caso de O Regresso, inspirado em partes do romance The Revenant de Michael Punke, no qual é inspirado em fatos reais.

A história gira em torno do explorador americano Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), que após ser atacado por um urso é deixado para trás pelos companheiros. Em meio à luta pela sobrevivência no mais inóspito ambiente, Hugh procura vingança por aquele que o traiu. Apesar da história simples, a imersão que o filme proporciona ao expectador é impressionante e é fácil se sentir em meio aos personagens no clima gelado das montanhas ainda inexploradas na época dos conflitos contra os índios nos Estados Unidos em 1823.


A direção, fotografia, atuações e trilha sonora trabalharam em perfeita harmonia. Alejandro G. Iñárritu mostra todo o seu talento como diretor assim como foi em Birdman, mas desta vez mostrando como pode ser versátil saindo bruscamente de um filme com temática teatral em que possui muitas cenas com longas conversas, para logo em seguida, um quase oposto onde em muitos momentos têm que dirigir cenas sem uma linha de diálogo. O diretor de fotografia Emmanuel Lubezki não fica atrás e impressiona desde a primeira cena em plano sequência na qual ocorre uma grande batalha, até a cena do desfecho (que sem dúvidas é de tirar o fôlego e de uma dificuldade extrema em se gravar). A trilha sonora não é tão brilhante quanto os outros dois aspectos, mas é justamente por isso que a há harmonia, as poucas partes em que aparece, se destaca na medida certa, sem roubar muito a cena.

Lógico que a harmonia se completa com as atuações, especialmente com Dicaprio vivendo intensamente o drama de Hugh Glass; não há como discordar da belíssima interpretação do ator, que se mostra cada vez mais completo a cada trabalho. Se já é difícil atuar com diálogos, atuar apenas com expressões, com o olhar e grunhidos de forma tão excepcional é realmente para poucos. Um ator diferenciado é quando o expectador esquece que está assistindo a um filme com o tal ator e consegue enxergar uma imagem nova, não tão familiar vista em filmes anteriores, mas de fato toda a profundidade do personagem. Esse artista se torna excepcional quando seu personagem consegue ir muito além das características já vistas em trabalhos passados, e sem dúvidas Dicaprio já alcançou esse nível.


Mesmo sendo um filme harmonioso e tecnicamente excepcional em muitos aspectos, O Regresso pode se tornar cansativo em vários momentos para quem pensa em ver um filme mais descontraído ou por pura diversão, o roteiro é pesado e arrastado em muitas partes, sem dúvida o ponto mais baixo do filme, o que torna a duração do mesmo demasiadamente enfadonha em suas 2 horas e 36 minutos. A condução dos outros personagens decepciona em alguns momentos nos quais se espera um desfecho mais interessante para os mesmos, mas acabam meio que esquecidos e mal aproveitados. Porém, se a procura for por um filme de arte, sem dúvidas O Regresso cumpre as melhores expectativas, o filme alcança um saldo muito positivo pela fotografia, direção e atuação que são absolutas obras de arte.

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